quinta-feira, 16 de agosto de 2012

WILLIS EARL BEAL + KITTY, DAISY & LEWIS + TEAM ME + MIDLAKE + PATRICK WATSON + SLEIGH BELLS, Festival Paredes de Coura, 15 de Agosto de 2012

Calças Wrangler justas, óculos Wayferer, cabelo aprumado, texanas polidas, palito no canto da boca amiúde transferido para trás da orelha (!) e uma t-shirt negra com um desenho onde se lia "Nobody". Pinta não faltava sem dúvida a Willis Earl Beal e desde que ligou o seu Revox (gravador de fita) pousado em cima de uma mesa foi impossível resistir-lhe. Vozeirão notável, entrega sublime de um rapagão agora artista mas que já foi um "Zé Ninguém" pelas ruas de Chicago e por isso saberá melhor que todos cantar as amarguras da vida. Agora oferece-nos amavelmente desenhos ou canções em directo via Skype! Desfraldou uma bandeira com o mesmo desenho empoleirado numa cadeira ao jeito de manto e a imagem ainda hoje não nos sai da cabeça. Mereceu todas as palmas que o público rendido lhe foi retribuindo e que, admirado, agradeceu com humildade! Aventurou-se na guitarra ao jeito de Hendrix para uma belíssimo "Evening's Kiss" e se este fosse o único concerto do dia, ele valeria bem os quarenta euros do bilhete, de qualquer bilhete! Magnífico.

Já no palco maior, outra surpresa! Parecem não ser destes tempos os irmãos Durham reunidos sob o nome de Kitty, Daisy & Lewis. Rock sem idade, bem feito, sem truques e que o anfiteatro já soalheiro do Tabuão recebeu de braços abertos. Rodando pela bateria e teclas, as irmãs tem na guitarra do irmão Lewis (ao que parece, um género de Jack White europeu dedicado ao vinil e avesso às tecnologias digitais) a pedra de toque exemplar. Se lhe juntarmos uma harmónica, um contrabaixo (a mãe do trio, Mama Weiss, antiga baterista das Raincoats, uau), uma guitarra-ritmo (o pai, Daddy Graeme) e um trompetista experimentado (o lendário jamaicano Eddie Tan Tan Thornton), a festa foi obviamente animada e a pedir maior duração em oportunidade futura. Saboroso.

O colectivo Team Me vêm de Noruega e não lhe foi difícil encher o palco mais pequeno. Do pouco que vimos, parecerem-nos coesos e os dez minutos de "Favorite Ghost" vincaram todos os elogios prévios. Mas havia que descer para a relva, porque a principal razão desta saltada a Coura estava prestes a começar... 

Os Midlake já em palco acertavam o som e instrumentos em cima da hora o que não era, certamente, bom sinal. Sentados na relva artificial, um quase sacrilégio à natureza do local, Erlend Oye de galochas e chapéu de palha e um compincha dos Whitest Boy Alive espalhavam mostarda num pacote de batatas fritas esperando, como todos, o começo da estreia portuguesa dos texanos. Rapidamente se percebeu que o acerto sonoro não foi o melhor, mas os Midlake parece não ter notado e quando os primeiros acordes de "Roscoe" soaram esquecemos as questões técnicas e pensamos ser mesmo uma sorte tê-los ali à nossa frente em carne osso. Estrearam-se quase uma mão cheia de temas novos, mas foi com "Head Home" que sentimos a sério aquele calafrio que só as canções eternas provocam. Foi bom, podia ter sido melhor, mas ele há bandas de que, religiosamente, nunca nos devemos queixar. Amen.

Com a barriga a dar horas, aproveitamos a enchente Temper Trap para algum reconforto alimentar, mas a proximidade do palco reduzido, nas redondezas dos fornecedores de pão-com-chouriço e pizza, fez com que levássemos com uns tais Dry The River como música de fundo. Não percebemos a histeria, mas que o homem desafina...

O fenómeno Patrick Watson em Portugal parece fácil de explicar. Mesmo assim, o próprio artista ainda hoje não percebeu, como confessado ("it's crazy"), o porquê de tamanha adesão, embora desde a estreia portuguesa na Aula Magna lisboeta, onde estivemos em Março de 2008, se augurasse tamanha empatia. As canções têm brilhantismo, arranjos certeiros e uma aura vocal a lembrar Buckley's e afins ao jeito de um gosto lusitano sem idades ou gerações. Bem disposto, Watson cedo arrebatou tudo e todos os que abarrotavam a zona próxima do palco, uma dádiva pela proximidade e intensidade permitidas. Em destaque esteve o último de originais já plenamente assimilado pela maioria e por isso mesmo a provocar resposta imediata e algo exagerada em palminhas e gritinhos supérfluos a que o próprio Watson teve que pedir contenção... Mesmo depois de desligados os microfones e acendidas as luzes, a barulhenta insistência levou a que o artista regressasse para, sozinho ao piano, desfazer ainda mais uns corações  com um "The Great Escape" de coro colectivo. Não será difícil prever que o regresso a estas bandas estará para breve. Será sempre bem-vindo. 

Quanto aos Sleigh Bells, bom, até tínhamos o disco novo em boa conta, mas ao vivo a coisa roça já alguma previsibilidade e uma exagerada carga sónica a que, contudo, uma boa parte da assistência respondeu de bom grado. Sem baterista mas com duas guitarras à desgarrada, este foi, no nosso caso, um daqueles concertos a que se vai espreitando os ecrãs enquanto se bebe mais uma cerveja. Deve ser da idade e, por isso, (os) Deus que nos perdoe mas regressamos ao lar.   

NOTA: é certo que são já quatro os anos (desde o memorável espectáculo dos Mars Volta) que primamos pela ausência em Coura. Esta moda dos dois palcos com concertos ao mesmo tempo é por isso uma novidade que merecia um folheto ou um flyer onde se dessem conta dos horários das actuações. Não custava nada e nem todos temos smart-phones para consultar na hora a programação. Tendo em conta os gastos que o patrocinador principal faz em chapéus de palha e afins, a tal informação seria uma despesa irrisória... mas útil. Incompreensível. Por isso tivemos que pedir um jornal numa barraca de cerveja para tirar a limpo o quem, o onde e o quando! 
Já agora (é só má língua), mais uma ou duas barraquinhas de café (cimbalino, senhores) também calhava bem já que a única existente tinha filas incomportáveis e um serviço lamentável.      











+ videos no Canal Eléctrico.

2 comentários:

Jessica disse...

Estavam a ser entregues, pelo menos no dia 15, desde as 11h da manhã, os ditos flyers desdobráveis com horários, planta do recinto e outras informações.

Jessica disse...

Relativamente à opinião sobre o concerto de Dry The River, discordo totalmente. Sendo bem mais "pequenos" como banda, fizeram aquilo que dEUS não conseguiu: actuar com qualidade e profissionalismo, e tornar "gigante" o dito palco secundário. A descontracção e proximidade são sempre bem-vindas, mas não quando acabam por desleixar a actuação e os músicos transparecem um "não faz mal porque temos graça". Esperava tanto mais deles naquele palco principal...