quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

(RE)LIDO #66





















THE LOOK
Adventures in Rock & Pop Fashion
de Paul Gorman: London; Adelita, 2006
A ligação eterna entre a moda e a música ou vice-versa permitiria, certamente, organizar uma enciclopédia de uma vintena de volumes e ainda alguns anexos remissivos. O que Paul Gorman se propôs há quase dez anos tem, no entanto, um fio condutor bem definido e decisivo - Londres, cidade sempre na vanguarda destas duas expressões artísticas embora o início de tamanha aliança pecaminosa passe obrigatoriamente, nos anos cinquenta, pela americana Memphis de Elvis Presley, lenda em destaque merecido e infalível na capa e primeiras páginas deste magnífico álbum visual e histórico. Depois tudo se precipitou por terras de Sua Majestade numa avalanche de tendências e loucuras que a explosão da música pop incendiou, passando a ser muitos os figurões que entram porta dentro das novas lojas atraídos por amigos modistas de vanguarda, amizades que o livro documenta na perfeição ao longo de 31 capítulos. Esses "figurões" são quase sempre de elevado calibre, de Miles Davis, aos Stones, ao lado de Jimmy Hendrix, Bowie, Roxy Music, The Who, Sex Pistols ou os The Clash e as suas meias brancas, tocando, claro, nos The Beatles em fase psicadélica e o fiasco da Apple Boutique, três andares numa esquina londrina que durou oito meses e custou, na altura, 100.000 libras esterlinas! Curiosidades e extravagâncias são muitas mas não resistimos a destacar o pormenor daqueles estranhos sapatos que Nick Drake tem descalçados na capa do álbum "Bryter Later" (1971), afinal uma criação da influente loja Mr. Freedom de King's Road e a referência a uma tal "Plazza", marca portuguesa (!) para a qual o afamado Antony Price desenhou, por volta de 1975, as primeiras t-shirts de mangas ultra-curtas tão ao gosto de muitos rockers. Mais próximo da nossa geração, ou seja, os anos oitenta trouxeram personagens arrojados como Kevin Rowland em figuras tristes e os seus Dexy's Midnight Runners ou o visionário Malcolm Mclaren, mas a obra não deixa de destacar a "gaulteriana" Madonna, Andre 3000, as Spice Girls e o auto-didatismo de uma sempre brilhante Alison Goldfrapp. Ou seja, um livro que, sendo já uma peça de colecção a precisar de actualização, constitui ainda uma referência para o estudo da cultura contemporânea na sua expressão ocidental a que se acrescenta uma excelente selecção de canções que cabem num magnífico CD de bónus.






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