segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

FESTIVAL PARA GENTE SENTADA
Teatro António Lamoso, St. Maria da Feira

Sexta, 22 de Fevereiro


TERRY LEE HALE
Figura irrequieta, Hale trouxe a St. Maria da Feira o seu blues-rock e folk de sabor country que continua persistentemente a cantar e gravar (já lá vão mais de uma dúzia de discos...). O último, “Shotgun Pillowcase”, foi desvendado em versão acústica e foi devidamente promovido pelo cantor – “O disco está à venda no foyer” – numa transacção por ele considerada justa ("Buy it and I get the money"). Nem mais. Ironizou as culpas de Bush ("Global warming? Is not my fault!") e sentou-se, já no final, cansado para um derradeiro tema - “Dead is Dead (?) - pleno de intensidade e reflexo de uma vida “on the road” que a sua música continua a valorizar. Descanço justo.


NINA NASTASIA
Na sua terceira apresentação em dois anos na zona do Grande Porto, Nastasia começou o concerto algo irritada e até com feições de antipatia. A sua música é, em todos os aspectos, íntima e essa característica transparece nas letras sentidas que a voz vai acentuando e marcando. Ouviu dizer que teria um bar no palco, mas só uma única garrafa de whiskey a acompanhou. Beberricou entre canções e mais tarde decidiu partilhar o malte com a plateia onde a garrafa se foi, de certeza, esvaziando. Quebrando algum “gelo”, decidiu telefonar (Iphonar) a uma amiga aniversariante nos EUA e pediu a todos para cantar os parabéns em alto e bom som para o gravador de chamadas... Claro que a resposta foi imediata e de pulmão aberto! O público aproveitou a deixa e pediu temas da sua eleição que a cantora não se fez rogada em satisfazer. A “frieza” estava assim esquecida e o concerto ganhou calor e mais sentido.

Sábado, 23 de Fevereiro


NORBERTO LOBO
Lobo e a sua guitarra valem muito mais que uma orquestra sinfónica. Em meia de hora de magia, tensão e brilhantismo, a música vai preenchendo todos os espaços do teatro, sem dar tréguas à nossa concentração e respiração. Há que manter a atenção às variações, ritmos e rendilhados do seu dedilhar que o silêncio do local embala e absorve. Dedicou temas aos amigos (o memorável “Mudar de Vida” de Paredes) e ao “grande” JP que tocaria a seguir. Ainda cantarolou sobre um dos temas, por sinal o último, de uma actução marcante e que, sempre que possível, se torna actualmente obrigatória e imperdível. O melhor concerto do festival.


JP SIMÕES
Agendado à última hora para substituir o “adoentado” Joe Henri, JP Simões esteve igual a si próprio. Ironizou com a tal doença (ele, Jp, era o menos doente que estava disponível...), brincou com o fabuloso concerto de Norberto Lobo (“se o concerto correr bem, é dedicado todo ao Norberto”) e fez as habituais introduções sarcásticas aos temas que seleccionou tocar. A “acidez” foi, no entanto, menor que noutras ocasiões talvez por lhe terem faltado os cigarros que agora não pode fumar em palco e mais (algum) álcool que o de uma única e simples cerveja disponível! O tempo também não era muito, mas o concerto viveu principalmente do disco “1970” de inspiração bossa-nova – brilhantes as canções “1970 (Retrato)”, “Só mais um samba” ou “O trovador entrevado” e mais o seu cão chamado Deus a ladrar aos camiões... . Desculpou-se do som da guitarra emprestada, mas a deficiência não se notou. Terminou quando ainda estava nas “voltas de aquecimento” mas um substituto deste calibre arrisca-se sempre à titularidade. Na actual música portuguesa, seja quem for o seleccionador, ela é já incontornável.



RICHARD HAWLEY
Depois de uma primeira parte descartável aquando do concerto de Nancy Sinatra na Casa da Música em 2005, Richard Hawley teve na Feira a oportunidade perfeita para mostrar o que vale. Rodeado por uma banda de “amigos”, o concerto foi, como ouvimos alguém desabafar satisfeito no final, um “banho de música”. Interpretes excelentes, empenhados e rodados, som potente e perfeito, deram a Hawley o “prémio” do público. Entercalando temas de todo os seus discos (ver abaixo a original e disputadíssima set list), o concerto permitiu avaliar de forma sólida as suas composições nostálgicas, o brilhantismo dos arranjos e o acerto da sua voz quente ao jeito de Roy Orbison, Cash ou até Elvis. Sobressairam os já clásicos “Coles Corner”, “Hotel room” ou “Just like the rain”, mas temas novos como “Serious” ou a “orbinsoniana “Valentine”, com que iniciou o espectáculo, não lhe ficaram atrás. No encore, “The Ocean”, pelo qual já muitos (todos!) desesperavam, deu azo a forte e merecida ovação. O prometido regresso a Portugal para breve parece ser sinónimo de reconhecimento e dedicação. Será sempre bem vindo!

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