terça-feira, 30 de dezembro de 2008

(RE) LIDO #14


MADREDEUS - UM FUTURO MAIOR
Jorge P. Pires, Temas e Debates, Circulo de Leitores, 1995
Sem quase dar-mos conta, o corrente ano ficará marcado pelo adeus definitivo aos Madredeus. Na sua essência o projecto tinha Teresa Salgueiro como figura emblemática e a sua anunciada renúncia ao grupo, em final de 2007, parece ter sido sinónimo de fim de carreira. Pois bem, aqui está uma boa oportunidade para finalmente ler o livro, já antigo e esgotado!
Estivemos com os Madredeus desde o seu primeiro concerto no Carlos Alberto no Porto em 1987, fomos a quase uma dúzia dos seus concertos, desde um apinhado Mosteiro de Leça de Bailio até a um último nos jardins do Palácio de Cristal (2005?). Acompanhamos sempre de perto a sua carreira, os projectos paralelos, as mudanças de formação, etc. Este livro serviu, assim e fundamentalmente, de memória escrita a muitas das nossas (boas) recordações – o começar do projecto, as expectativas criadas pela imprensa (particularmente o Blitz e o Sete da altura), os primeiros concertos, de que o Porto se pode orgulhar de ter começado, ou a surpreendente carreira internacional em apoteose. O jornalista Jorge Pires, sem exaustão, faz uma óptima panorâmica dos primeiros dez anos da banda para o que se serviu de conversas directas com os músicos, técnicos, produtores e agentes envolvidos, viajando algumas vezes com eles ou estando presente nos concertos ou estúdios de gravação. Realiza ainda uma tentativa, difícil, de caracterização do som “português” do projecto, rebuscando influências e pegando, corajosamente, no tema “Saudade” para perceber o fenómeno. A descrição remete-nos ainda para tempos em que a música portuguesa parecia explodir definitivamente com o êxito dos Sétima Legião, GNR, Xutos e Pontapés ou projecto Resistência (lembram-se?). Contudo e tal como foi sempre perceptível, havia demasiados e diferentes “génios” em tensão no seio do grupo, problemas que o livro aponta pertinentemente e que teria como resultado a saída de Rodrigo Leão em Julho de 1994. Sem sabermos, estivemos no último concerto em que ele participou (2 de Julho desse ano, no Coliseu do Porto), estando assim a cidade nortenha intimamente ligada à história do grupo, para o bem e para o mal. Confessamos, se calhar injustamente, a nossa indiferença em relação ao novo projecto Madredeus & Banda Cósmica. Ainda por cima, no passado sábado de manhã, a RTP2 passou um pequeno documentário/concerto sobre o novo disco e muito sinceramente não gostamos nada do que ouvimos. Não será fácil substituir Teresa Salgueiro, nem a brincar, mas ouvir o eterno “O Mar” na voz de outro alguém, provocou-nos alguns arrepios de pavor. Ora, os Madredeus e a sua música, pelo contrário, sempre nos fizeram sentir bem. O tal espírito da paz...


O Mar

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