segunda-feira, 9 de março de 2009

SIMON BOOKISH, Casa das Artes, V.N. de Famalicão, 07 de Março de 2009


Tal como é apresentado pela própria organização, o palco da Casa das Artes é um cenário de imprevistos. É assim desde que a instituição famalicense se lançou na promoção de concertos diferentes, únicos e surpreendentes, que já trouxe até lá nomes como Rufus Wainwright, Rickie Lee Jones, Jonh Cale, John Vanderslice, Final Fantasy, Sebastian Tellier, Little Annie ou David Dondero. Espectáculos todos eles bem produzidos, com excelentes condições de palco, som e luz, bonitos e sóbrios cartazes e flyers promocionais e preços convidativos. No entanto e com excepção de Wainwright, um denominador comum: a falta de público. Apesar dos números estatísticos, o auditório, naqueles concertos, quase sempre não chega a metade da lotação, com ocupações verdadeiramente desoladoras, como seja o caso de Tellier com menos de cem pessoas... Um verdadeiro “case studie”, de uma autarquia apostada em fazer bem e em formar públicos, mas ainda com notório insucesso local no que ao pop-rock internacional diz respeito. Prometem-se para os próximos tempos outras apostas (Devotcka, Fujiya Miyagi, Alela Diane, p.ex.) e um dia, com certeza, a lotação vai esgotar. Um verdadeiro paraíso para melómanos!

O concerto de Sábado passado do inglês Simon Bookish não foi excepção. Num concerto único em Portugal de um músico talentoso e com um excelente disco do ano passado (“Everything/Everything”) para apresentar, as cadeiras ocupadas eram cerca de meia centena! Como agora se diz, Bookish faz pop inteligente, mas este é um rótulo, apesar de merecido, muito redutor, o que a noite haveria de comprovar. Numa primeira parte, o artista surgiu sozinho em palco e com a ajuda de um laptop, apresentou alguns “temas” de spoken word revestidos por alguma electrónica, experiências incluídas em anteriores discos. Logo aqui se notou a presença marcante, encenando as palavras, gesticulando e desafiando os presentes a manter a atenção. Terminou este primeiro momento com “Interview”, uma semi-canção que viria a dar o mote para o que se seguiria. Já acompanhado por uma banda completa (bateria, baixo, órgão e dois saxofones), a sua perfomance tornou-se ainda mais avalassadora. O conjunto, mais que oleado e sem falhas, interpretou imaculadamente quase todos os temas do novo álbum, uma mistura explosiva de várias influências, com destaque para o magnífico “Portrait of the Artist As a Fountain” logo no início. Magistralmente pensado e comandado pela sua genialidade, cuja formação clássica e uma voz sedutora permite “brincar” à pop de uma maneira fácil, o concerto demonstrou a suprema qualidade e validade das suas canções. No único encore, voltou a “Interview”, mas agora devidamente acompanhado por toda a banda em mais um momento brilhante.
Como é já habitual em Famalicão, um óptimo concerto só para alguns sortudos, de um nome que é um caso sério de talento e que merecia uma outra moldura humana. Fica, certamente, para uma próxima oportunidade, com a certeza, porém, que esta "primeira vez" é já memorável.

(+ cedo ou + tarde videos HugTheDj)

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