segunda-feira, 1 de março de 2010

(RE)VISTO #31


HEAVY METAL IN BAGHDAD
de Suroosh Alvi e Eddi Moretti, VBS Tv, DVD, 2008

A chamada música de peso não escolhe culturas ou nações. Para surpresa de todos, tivemos até o Festival da Canção de 2006 dominado por uns estranhos e brincalhões finlandeses de nome Lordi, embora o documento de aqui vamos falar agora tenha que ser levado um pouco mais a sério. Os Acrassicauda (“Escorpião Negro”) são uma banda de heavy metal nascida em 2003 em Bagdad, Iraque, cidade onde deram, com algumas restrições, apenas três concertos até o país iniciar a desintegração. Influenciados pelos Metallica, Slayer ou Slipknot, a sua simples existência era vista pelo regime de Sadam Hussein como uma “maldição” e um sacrilégio, remetendo-os quase à clandestinidade. Cabelos longos, obviamente, que não eram permitidos, apesar do enérgico handbaggin que as reportagem desses pouco espectáculos documentam e o acesso a melhores condições ou sistemas sonoros, um sonho longínquo. Com a invasão do país e o controle da cidade por forças ocidentais, uma ultra-segura equipa ocidental da empresa VBS TV, onde milita o criativo Spike Jonze, decidiu documentar as aventuras destes persistentes músicos, promovendo o último concerto por terras iraquianas, realizado num hotel posteriormente bombardeado e recolhendo, in loco, testemunhos das múltiplas contrariedades. A situação haveria de agravar-se ainda mais com a destruição do local de ensaios e a quase totalidade dos instrumentos, levando alguns dos elementos a refugiaram-se na vizinha Síria. É neste país que todos se acabam por reunir para reiniciar os ensaios e organizar um primeiro concerto no estrangeiro. O entusiasmo e carinho de alguns aficionados, leva a banda até um estúdio roufenho, onde gravam algumas demos de originais, mas as saudades da terra natal, apesar da destruição, continua a deixar marcas. O filme, que em 2008 abriu a segunda edição do extinto (?) ViMus, Festival Internacional de Vídeo Musical da Póvoa de Varzim, acaba em ambiente emocional com a projecção privada de parte do documentário realizado em Bagdad, num documento em que prevalece uma sensação de inacabado. Fomos investigar e, claro, confirmaram-se desenvolvimentos surpreendentes

A banda passaria a seguir pela Turquia, local onde o estatuto de refugiado lhe permitiu viajar para os Estados Unidos. Aí, um livro foi já lançado com o relato de toda a história e os agora cabeludos Acrassicauda obtiveram já a benção do senhor Hetfield dos idolatrados Metallica. O “sonho americano” está muito perto da concretização total: vários concertos, um EP gravado, sede em Brooklyn e é vê-los no myspace e por todo o Youtube! Bem-vindos à selva...

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