sexta-feira, 28 de outubro de 2011

(RE)LIDO #37





















LIFE 
de Keith Richards e James Fox.
London: Weidenfeld & Nicolson, 2010
Poucos ou nenhuns dos figurões da história do rock se aventuraram a contar na primeira pessoa a sua vida. Ou porque não tiveram tempo para o fazer ou porque, simplesmente, não tiveram coragem e génio para pegar o touro pelos cornos. Ora, Keith Richards, talvez o principal figurão-mor do rock roll ainda vivo, deitou mãos à obra e com a ajuda do amigo e jornalista James Fox conseguiu uma biografia obrigatória para quem gosta e não gosta dos Rolling Stones. Ao longo dos dez intensos capítulos da obra, há, na versão original, uma expressão que talvez resuma da melhor forma o conteúdo desta biografia - "cold turkey". Não sabemos como é que a ela foi traduzida na versão portuguesa de "Life", que só agora foi editada por cá, mas atendendo às inúmeras vezes que surge citada, o significado só pode remeter para o óbvio, ou seja, sarilhos. Claro que "Cold turkey" é o título de uma canção de John Lennon supostamente inspirada na dependência de heroína do casal Lennon/Ono, o que aplicado ao caso de Richards talvez ainda faça mais sentido. A droga é aliás, sem rodeios, a principal temática biográfica, desde os primeiros impulsos inocentes até à completa dependência (ao ponto de ter entrado em lojas de brinquedos para comprar kits de enfermeira p/ crianças só porque essa era a única forma de obter uma seringa...), só que a fórmula satírica e sarcástica com que Richards aborda o assunto sério e o êxito obtido na sua cura, faz-nos quase sempre esboçar um sorriso de contentamento. Confronto, irreverência e, porque não, alguma arrogância, foram e continuam a ser atitudes típicas de quem viu numa guitarra a salvação e ganha-pão de uma vida necessariamente atribulada e esticada até ao limite. Tribunais, advogados, divórcios, litígios, separações, loucuras, algumas escaramuças e, claro, muita má imprensa, são pratos fortes de uma ementa explosiva e atractiva para o leitor e nitidamente saborosa de contar para o lúcido e orgulhoso Richards. Há, no entanto, um indisfarçavel motivo de fundo para que este livro tivesse visto a luz do dia: Mick Jagger. As alfinetadas são mais que muitas, numa relação quase de amor e ódio e que a publicação desta biografia veio definitivamente acicatar, como que à espera efectiva de uma resposta. Na contracapa cartonada Richards escreve: "This is the life. Believe it or not I haven't forgotten any of it. Thanks + praises". Por incrível que possa parecer, só temos mesmo é que acreditar, o que torna as mais de 550 páginas desta verdadeira maratona literária numa raridade cintilante e quase extraterrestre. Ao jeito de Fox Mulder dos saudosos "Ficheiros Secretos" diríamos "I Want To Believe"!



Parte 2; Parte 3; Parte 4; Parte 5; Parte 6.

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