quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

(RE)LIDO #68





















VIDA DUPLA
de Sérgio Godinho. Lisboa; Quetzal, 2014
As histórias contadas por Sérgio Godinho em formato de canção são, no âmbito de uma suposta hierarquia da música popular portuguesa, do melhor que a lusofonia conheceu nas últimas décadas. Como ouvimos de viva voz em 2012, as influências ou estilos são certamente diversos mas a sua inquietude permanente confirma uma irreverência artística que nunca se confinou à música e cedo se espalhou ao guionismo para cinema, às peças de teatro, histórias infantis, poesia ou crónicas como as que se reuniram em "40 Caríssimas Canções". Faltava a estreia na ficção dita adulta que aconteceu o ano passado com "Vida Dupla", um conjunto solto de nove histórias na primeira pessoa e que teve como ponto de partida o conto "Notas Soltas da Corda e do Carrasco", um encomenda da já extinta Biblioteca Digital do "Diário de Notícias" iniciada em 2012. Como sempre, é a vida quotidiana e as suas perturbações (in)comuns o principal campo de manobra ficcional do multifacetado autor sem que, contudo, alguns dos personagens não pareçam pertencer a este mundo terreno de que é exemplo a cavaleira de "O Circo de Três Pistas", um fabuloso conto que dá vontade que não acabe. Esse é mesmo um dos "problemas" do livro - quando já estamos envolvidos e absortos a história termina ao jeito, lá está, de uma canção sem tempo nem lugar. Com setenta anos de vida completados este ano e uma longa vida artística, de Sérgio Godinho só podemos esperar que estes pequenos enredos se transformem algum dia em grandes canções destinadas a encantar. Como esta pré-história...

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