sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

SINGLES #42





















JOSÉ AFONSO - Natal dos Simples
Portugal: Orfeu, ATEP 6356, EP 45 RPM, 1969
A história desta canção de José Afonso foi já devidamente contada e recontada, um trilho que a revista Visão fez o favor de percorrer no primeiro mês de 2016, o tal onde se cantam as Janeiras. "Vamos Cantar As Janeiras"... este verso tantas vezes ensaiado em plena sala de aula da primária ficou-nos sempre na memória e a insistência na prática tinha um propósito: um coro colectivo de miúdos e miúdas de bata branca reunidos à volta de uma árvore de Natal no átrio frio da escola de soalho de madeira, muita timidez e, com sorte, um beijinho da professora e votos de "Bom Natal"! Longe do pensamento estavam preocupações sobre quem era o autor da canção, as suas conotações políticas ou outras subtilezas líricas já que, mesmo sem direito a qualquer presente ou sequer um docinho, o importante é que o período de férias estava à porta e as brincadeiras com os primos e amigos da rua já tardavam. O tema tornou-se um tradicional de época e logo em 1970 a própria Amália Rodrigues não resistiu a gravar uma versão mais ligeira e orquestrada que faria parte de um single e a que no lado B acrescentou "Balada do Sino", um outro original de Afonso incluído neste EP ao lado do tema título, de "O Cavaleiro e o Anjo" e "Saudadinha". Tirando este último, os temas estavam presentes no disco "Cantares de Andarilho" que marcou em 1968 a ligação a Arnaldo Trindade e à ORFEU e onde José Afonso, acompanhado simplesmente pela viola de Rui Pato, apostou na recuperação de formas mais tradicionais da música portuguesa. O single EP é hoje uma raridade ainda bem valorizada e é também conhecido como "José Afonso Óscar da Imprensa" já que na contracapa se faz alusão, bem impressa, a esse prémio que recebeu por parte da Casa da Imprensa em 1969 relativo ao melhor álbum com o referido "Cantares de Andarilho". A partir daqui o envolvimento político torna-se irreversível e à simplicidade de uma guitarra e voz passam a juntar-se outros instrumentos, outros cantores, uma maior sofisticação da composição e produção e uma cada vez mais fina malha de vigilância política. Para trás e para todo sempre a ecoar na nossa escola ficará o eterno
Pam-pararan-ri-ri
Pam-pararan-ri-ri
Pam, pam, pam, pam...

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